Subtração de cartão bancário e empréstimo feito indevidamente lideram as estatísticas
Camilla Haddad
A cada quatro dias, chega ao conhecimento da Polícia Civil da capital uma queixa de idoso roubado por parente ou conhecido. Os casos de cartão bancário usado indevidamente ou empréstimo contraído por familiares lideram o ranking de crimes contra pessoas da terceira idade na cidade de São Paulo no primeiro semestre. Dos 180 registros policiais feitos por idosos, 43 se referiam a esse tipo de crime.
Em segundo lugar nas estatísticas de crimes contra pessoas com mais de 65 anos aparecem discussões e xingamentos, com 41 casos, seguidos de agressões físicas (35). Os demais estão relacionados a abandono, maus-tratos, discriminação e má qualidade no atendimento clínico, hospitalar e de planos de saúde. Os números podem ser ainda maiores, pois há quem prefira não levar a história à polícia.
A pensionista C.B., de 68 anos, não teve medo na hora de denunciar a filha, que, segundo ela, a deixou “na miséria”. C. afirma que, há dois anos, a filha, casada, ligava ameaçando se matar caso os pais não emprestassem dinheiro. “Tivemos de vender a casa. Não sei onde gasta tanto. Ela dá uma de rica por aí.”
Atualmente, C. vive em uma casa de um cômodo e toma antidepressivos. O imóvel foi cedido pela filha. Mas, segundo a pensionista, está no nome de outra pessoa. “Meu genro liga todo dia para saber se ainda não morri para desocupar a casa.” O desespero faz parte da vida da idosa. “Tenho ido a delegacias para pedir garantia de que poderei ficar aqui, mas não registram isso.”
“A maior parte dos extravios de cartões de banco tem a ver com filhos e netos”, diz o presidente do Conselho Municipal do Idoso, Marcel Thomé, de 73. Alguns anos atrás, afirma Thomé, parentes se apoderavam até do cartão de ônibus do idoso. “Agora, a Prefeitura mudou o cartão. Mas tinha parente que andava com o cartão do transporte para lá e para cá.”
Segundo Thomé, muitos idosos evitam fazer queixas, porque temem não receber mais visitas da família. “É difícil denunciar o próprio filho.” O Conselho Municipal registra de 20 a 30 denúncias de maus-tratos por dia, média de uma ligação por hora. No fim do mês, são mais de 800 casos. “Há muitos maus-tratos em asilos. Quando é questão de dinheiro pego indevidamente, encaminhamos para delegacias.”
Procurações. O especialista em segurança Felipe Gonçalves orienta os idosos a não assinar nenhum documento sem saber de que se trata. Não é indicado fazer procuração – seja para filho, neto ou sobrinho. Isso pode levar a pessoa a usar o documento indevidamente, para fazer empréstimos, por exemplo.
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